PS apresenta voto pelo falecimento de Marcolino Candeias

PS Açores - 12 de julho, 2016
Domingos Cunha apresentou esta terça-feira à Assembleia Legislativa dos Açores, em nome do PS/Açores,  o seguinte voto de pesar, aprovado por unanimidade, que se transcreve na íntegra: VOTO DE PESAR FALECIMENTO DE MARCOLINO CANDEIAS, 1952-2016 Marcolino Candeias Coelho Lopes nasceu na freguesia das Cinco Ribeiras, Angra do Heroísmo, no dia 28 de agosto de 1952, tendo completado os estudos secundários na sua cidade natal. Participou desde muito jovem em atividades culturais e revelou-se como poeta, ainda estudante liceal publicou o seu primeiro livro, «Por ter escrito amor»,  com apenas 19 anos, em páginas académicas, e na «Glacial» (suplemento de artes e letras publicado no jornal “A União”, de Angra do Heroísmo, editado entre 1967 e 1974) que deu um contributo considerável à atividade literária nos Açores. Marcolino Candeias é considerado uma das vozes mais importantes do grupo a que pertenceu – que, mais tarde, se convencionou chamar, a “geração glacial” -, fundamentalmente preocupado com os valores mais profundos relacionados com a sociedade, a liberdade, a democracia e o papel do homem neste contexto e que prestou um contributo considerável à atividade literária nos Açores. Iniciou estudos superiores na Universidade de Coimbra. Nesta universidade obteve o bacharelato em Filologia Românica e, em seguida, a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, com distinção. Professor estagiário do ensino secundário foi assistente de Linguística na Universidade dos Açores e na Universidade de Coimbra. O seu percurso profissional passou também pelo Canadá, onde permaneceu durante onze anos, tendo sido professor convidado (leitor) de Língua, Literatura e Culturas Portuguesa e Brasileira no Département d´Études Anciennes et Modernes da Universidade de Montreal, tendo sido também chefe da Secção de Estudos Portugueses e Brasileiros do mesmo departamento. No âmbito da sua atividade docente participou em vários congressos e proferiu diversas conferências e palestras, designadamente, em Montreal. Ainda nesta cidade esteve ligado à imprensa comunitária de língua portuguesa e desempenhou as funções de assessor e secretário executivo do conselho de administração da Caisse d´Économie des Portugais de Montreal, cooperativa de poupança e crédito fundada por emigrantes portugueses. Regressou aos Açores em 1997. Nas funções públicas que desempenhou, registam-se as de Diretor da Casa da Cultura da Juventude de Angra do Heroísmo – de setembro de 1997 a setembro de 1999; de Diretor Regional da Cultura – outubro 1999/agosto 2001; de Presidente do Gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo – setembro de 2001/julho de 2005 e de Diretor da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo (BPARAH) - agosto 2005 / maio 2016.   Nesta qualidade, merecem destaque, de entre outras, a candidatura da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo a membro da UNAL (rede de bibliotecas associadas da UNESCO) tendo recebido, na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, em cerimónia pública de 15 de novembro de 2014, o certificado de membro da UNAL entregue pela Presidente da Comissão Nacional da UNESCO, Embaixadora Ana Martinho; foi autor do sítio web da mesma Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo e responsável pela respetiva produção gráfica, redação de conteúdos e colocação online; a implementação de um programa cultural destinado aos públicos infantojuvenis e adultos, do qual se destacam: o Projeto Itinerância de Conto, extensão cultural dos hábitos de leitura e de divulgação do livro, que envolveu todas as crianças em idade escolar até ao 1º ano do ensino básico e, em regime de voluntariado, aos seus docentes e pais e atividades na área da música, nomeadamente a realização de 10 edições de concertos de Natal da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo. Marcolino Candeias escreveu e publicou as obras “Por ter escrito amor” e “Na distância deste tempo”, editadas em 1989 e 2002, respetivamente. Alguns dos seus poemas foram traduzidos para inglês e eslovaco. Ao longo da sua vida participou em várias colaborações dispersas, entre as quais se salientam a Semântica e sintaxe do português com Michael Metzeltin; (Novalmedina) 1990, a Revista «Atlântida», edição do Instituto Açoriano de Cultura, a Revista «Vértice», de Coimbra e a Revista «Décima Ilha Açoriana», editada em Porto Alegre, Brasil. Foi, ainda, colaborador ativo do Suplemento literário «Glacial», do jornal “A União” e do Suplemento de Artes e Letras, do jornal “Diário Insular”. Foi prefaciador de diversas obras, entre elas destaca-se o Inventário do património imóvel da Madalena do Pico e Vila Nova do Corvo – edição da Direção Regional da Cultura/Instituto Açoriano de Cultura; Emanuel: 50 anos de palavras (1952-2002) – edição da Direção Regional da Cultura/Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo; Tomás de Borba na história da música portuguesa do século XX: modernidade e tolerância, de Duarte Manuel Gonçalves da Rosa – edição do Instituto Açoriano de Cultura. A sua obra encontra-se identificada em várias antologias nacionais e internacionais. Para além de autor de várias capas de obras literárias, através das quais revelou a sua sensibilidade artística, Marcolino Candeias foi também autor de estórias orais que relatam a visão de um antigo emigrante terceirense de origem rural na Califórnia, Joe Canoa, e revelam também a sua capacidade de ator e improvisador. O Joe Canoa ficou seguramente na memória de muita gente e terá deixado descendentes junto de quantos o recriam atualmente. O seu percurso, desde a vida académica, pautou-se pela contenda pela liberdade, tendo sido um dos açorianos que ajudou, desde longa data, a despertar ideias, alimentar conceitos e a enriquecer o conhecimento, quer através da obra que deixou publicada e na qual colaborou, assim como dinâmico divulgador da cultura e da implementação pelo gosto pela leitura, junto dos jovens. Dele, guardaremos também a simplicidade, o modo afável com que abraçava os amigos, a eterna disponibilidade e a paixão que dedicou à ilha que o viu nascer e aos Açores. Ditas as palavras que fundamentam este Voto, ficamos com um pequeno enxerto do poema “Breve Discurso aos Meus Amigos”: … Ah meus amigos meus inimigos nós que inventámos a computação de bolso e o laser nós que viajamos no imo do invisível nós que fazemos a carambola com neutrões nós que manipulamos a ADN como um castelo de Lego nós mesmos que bordejamos as costas do cosmos nós os que glorificamos nós os que descreditamos nós os que desacreditámos da democracia e quisemos o mundo livre e melhor nós que gravamos no perfeito absoluto da matéria a perpetuidade do Hino à Alegria nós que operámos tanta maravilha. … Assim, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista, ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis propõe à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em sessão plenária de julho de 2016, a aprovação deste Voto de Pesar e que o mesmo seja dado conhecimento à sua mulher e filhos e à Secretaria Regional da Educação e Cultura, à Direção Regional da Cultura e à Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo.